Sou uma mulher, mas Deus fez quatro abortos em mim, sem meu consentimento e nem me deu explicação. Agiu com uma crueldade infinita e divina: esperou o meu feto crescer bastante para depois parar seu coração e estragar minha placenta. Resultado, tive que parir bebês mortos, que ficaram nesse estado na minha grande barriga. A espera para o parto do bebê morto foi a mesma, no mesmo local onde outras mães pariam crianças perfeitas que choravam, eram filmadas e festejadas. Em meu caso, a dor das contrações e o silêncio e o olhar de compaixão do médico e enfermeiras. Uma massa humana passava por entre as minhas pernas, quente, ensanguentada e deslizava para a bandeja de aço inoxidável.
- Quer ver, perguntava o médico. Não, respondi as quatro vezes. Nunca vi o rosto dos meus fetos ou seus pedaços que meu útero acolheu na espera de crescerem.
Por algum motivo misterioso e mágico, não pude ser mãe. E mãe de fetos não vale o bastante para receber carinho e flores neste dia dedicado às mães.
Portanto, este dia sempre me dói e faz com que sangrem as feridas que nunca cicatrizam.
Meus quatro filhos pequeninhos, inteiros ou aos pedaços estão no colo de Deus, pois ele sabe o que faz. Infelizmente, ainda tenho longas discussões com ele. Por que esperou que crescessem até o sétimo mês de gestação, deixou eu fazer enxoval e comprar o bercinho! Por que não abortei embriões!!!! Não seria tão cruel. Nunca aceitarei! Mas, portanto, lhe peço, pelos menos cole os pedaços das crianças e lhe dê carinho, afagos e pirulitos.
Deus, cole os pedaços dos meus filhos! |