terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Papai Noel não existe", declarou

Quando escutei esta sentença de realidade num Natal da minha infância, não estava preparada para isso. Disseram antes do tempo, mataram a minha inocência e a magia do meu coração de criança. Lembro de ter ficado em silêncio, pensando. "Bem, pode ser, um gordo velho morador de uma região fria do outro lado do mundo, voando num trenó puxado por renas... é possível".

No entanto, naquela noite de Natal, ainda cultivei a ilusão de que o bom velhinho entraria pela janela para trazer alguns brinquedos e botar embaixo do pinheiro. "Papai Noel não existe", fiquei com o pensamento na minha cabeça. Tímida, não comentei com ninguém nem perguntei se isso era verdade. Que pena, mas faço questão de acreditar nele, pensei sentada embaixo do pinheiro enfeitado.

Resolvi ter um consolo: se ele não existe, com certeza o Coelho da Páscoa existe! Este é real! Acredito nele. Em minha imaginação era um coelho branco, enorme, que no meio da noite enchia meu cesto de vime com chocolates. Ele entrava pela porta e se dirigia a meu quarto e sabia que embaixo da minha cama tinha um ninho. O coelho gigante vinha não sei de onde, caminhando com enorme cesto de ovos de chocolate. O coelho da Páscoa existe sim! E dei por encerrado o assunto.

O tempo passou e ciente que o Papai Noel não existia, conforme disse minha prima, continuei a crer no coelho gigante. Anos depois o vi num filme na televisão, seu nome era Harvey e acompanhava o personagem Elwood, protagonizado pelo ator James Stewart. O filme era de 1950, norte-americano, com roteiro escrito por Mary Chase e dirigido por Henry Koster.

PUKA
Cena do filme Meu Amigo Harvey, um coelho que somente o personagem enxerga


A história gira em torno de Elwood, que gosta de beber além da conta, e afirma ter como companheiro um coelho branco com mais de dois metros. Só que ninguém o vê, só ele. "Pronto, ali está o meu coelho da Páscoa!", pensei. O personagem afirma que o coelho é Puka, criatura mística da mitologia celta.

Quem quiser assistir este filme, no Brasil chama-se Meu amigo Harvey.

Portanto, se meu Papai Noel está atado numa cruz feita de realidade, meu coelhão da Páscoa anda à solta pelos campos da Bretanha.

Não detone com o mundo imaginário e mágico das crianças com bobagens da realidade. Puka vai te puxar os pés durante a noite.

Papai Noel agoniza preso na cruz

Meu Papai Noel está literalmente preso na cruz, na cruz da obrigatoriedade do consumo, meio zonzo com as músicas natalinas e ofertas ensurdecedoras na tevê, no rádio e nas publicações. Até aqui no meu blog tem anúncios para as férias de verão, relógios e outros objetos de desejo que as pessoas costumam cultivar.

Meu Papai Noel tá preso na minha conta bancária em vermelho há alguns meses, sem possibilidades nem de comprar presentes para ninguém e nem para mim. Na verdade este Noel tá parecendo com a situação climática aqui no Sul: seco, sem chuva. Estiagem já preocupa o povo do campo. O rio dos Sinos agoniza com falta de chuva e poluição, sujeira e mortandade dos peixes. Um Natal atípico, mas previsível com o fenômeno La Niña. Fazer o quê? Esperar que daqui uns 15 dias a chuva volte a abençoar esta terra seca. E que meu Papai Noel no ano que vem possa estar mais livre e desimpedido para compartilhar esta época de alegria e festas com todos.

Por enquanto é só poeira, vento e florestas com risco de incêndios. Tomara que o fogo não chegue a queimar a cruz do Noel e seus presentes fora de seu alcance.

Para amanhã, com a previsão da meteorologia, há possibilidade de vendavais, granizo e ventos fortes. Quem sabe, depois da chuva sagrada, brotos e flores comecem a desabrochar. E o Papai Noel suje suas botas com barro ao percorrer todos os lares gaúchos, inclusive o meu. Eu acredito em milagres.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Oxum, o primeiro orixá errado no meu eledá

Quando entrei na religião afro, aqui no Sul chamada de Nação, me entregaram a bela mãe Oxum.


Hoje dia 8 de dezembro é o dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição, Oxum Docô, a mais velha. E sempre que passa este dia, recolho-me a minha dor interior de ter sido consagrada a esta energia, que pouco ou nada tem a ver comigo.


Fiz um bori (batismo) com quatro pés. Logo após me senti muito mal. Dias depois, menstruei no "chão", quando fui mandada embora.


Em minha cabeça, não podia conceber ser filha de um orixá que nunca me amparou nas perdas gestacionais que passei. Isso não fazia sentido. E assim começou minha busca, jogando búzios em todo o estado do Rio Grande do Sul  para conhecer o meu verdadeiro orixá. Anos depois, apresentou-se, acolhendo-me com rosas vermelhas e espada na mão: Iansã.


Vale salientar, que após o bori, já em casa, fiquei muito deprimida, auto-estima em baixa e surda de um ouvido. Muitas perdas e grande reviravolta na minha vida.


Apesar de tudo, saúdo a Oxum Docô em seu dia, pedindo proteção e misericórdia. 

Ano-novo no hospital

Pior do que não ter dinheiro para as festas de fim de ano é passar o ano-novo no hospital, esperando em sala de pré-parto meu primeiro bebê morto nascer, às custas de um soro para apressar as contrações.

A primeira perda gestacional a gente nunca esquece, e sempre em final de ano, lembro que constatada que minha gravidez havia sido interrompida no dia 28 de dezembro, fui obrigada a ser internada em maternidade para aguardar o parto normal do meu primeiro filho.

No dia 2 de janeiro, pouco depois das 10 da manhã, com sangramento e as dores comuns ao parto normal, nascia amparado por uma bandeja de aço inoxidável, um bebê aos pedaços, pesando ao todo em torno de 300 gramas. O sexo não pôde ser identificado.

Lá na rua, ainda podia se ouvir os foguetes saudando a chegada do novo ano.

Estava calor, mas meu corpo tremia de frio, como se meu metabolismo estivesse fora de controle. Cobriram-me com uns três cobertores dobrados e me forraram para aparar meu sangue. Menstruava depois de quatro meses de gestação.

Aliviada por ter acabado a dor e o sofrimento, fiquei feliz em ser levada para um quarto, onde pude dormir e descansar.

Mal sabia eu que passaria por situação semelhante mais três vezes.
Meu primeiro bebê nasceu aos pedaços, com 300gr


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Feitiço para o gatinho nunca crescer

Gaspar


Esta magia foi ensinada pela minha avó portuguesa. Ela também gostava de gatos. Eu dizia a minha mãe que gostaria que os meus gatos nunca crescessem, pois eram adoráveis como filhotes brincalhões. Então minha mãe ensinou o que aprendeu com sua mãe portuguesa.


- Na lua minguante, pegue o gatinho e passe pela alça da chaleira. Assim, ele nunca vai crescer.

Fiz isso várias vezes, em todas as fases da lua. Os gatos continuavam crescendo, de tal forma que não mais passavam pela alça da chaleira. Talvez este feitiço funcionasse em Portugal.

Feitiço para ganhar um irmãozinho

Sou do tempo em que os bebês eram trazidos pela cegonha. Acreditava piamente nisso, assim como no Coelho da Páscoa, no Papai Noel, em fadas, bruxas e duendes. A magia fazia parte da minha vida.


Sentia-me sozinha e ficava pedindo a Deus que a cegonha trouxesse um irmãozinho para eu cuidar.


Sensibilizada com minha ansiedade, minha mãe me ensinou meu primeiro feitiço.


- Menina, pegue um pouco de açúcar e coloque sobre um papel no parapeito da janela. Isso atrairá a cegonha.


Fiquei muito entusiasmada com aquela ação mágica. E logo todas as janelas da casa tinham um papelzinho com punhado de açúcar. O irmãozinho nunca apareceu, nem mesmo a cegonha sem a trouxa. Cultivar nossa inocência e o mundo imaginário é a verdadeira ligação que temos com o mundo oculto. Ser criança para sempre faz de nós seres especiais. 


Quer engravidar? Bote açúcar na janela.

Depois da oração, enxergava vultos

Fui ensinada a rezar antes de dormir. Minha família era católica; portanto, fui batizada e crismada na igreja. Quando pequena sofria de dores nas pernas que não me deixavam dormir. A mãe então as massageava com álcool até passar. Não sei porque não me davam um analgésico. 
Minha mãe tinha um cuidado todo especial com minha saúde, parecia temer pela minha morte a qualquer momento. Por isso me ensinou a primeira oração que deveria fazer antes de dormir.


Santo anjo do senhor,
meu zeloso guardador,
se a ti me confiou
a piedade divina,
sempre me reges, me guardes,
me governa e me ilumina.
Amém!


Deitada na cama da Branca de Neve, fechava os olhos. O quarto ficava escuro. Então as imagens apareciam, como manchas amarelas e negras, formavam rostos. E eu tinha medo daquilo. Parece que minha oração não adiantava, tinha um monte de gente sobre minha cabeça. Adormecia com medo. Assim passei muitos anos. O Santo Anjo do Senhor será que foi meu guardador?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Café colonial: se quer café tem que chamar o gerente

Olhe atentamente: onde está o café com leite?


Num inverno chuvoso, frio e com neblina, nada como subir a serra em Gramado ou Canela para saborear um café colonial que vale como almoço ou jantar. Era um dos nossos primeiros passeios com os filhos dele. Os guris não conheciam as cidades, muito menos o café colonial, tradicional da região do Sul do Brasil. 


Sentamos à mesa, que foi prontamente servida com todas as iguarias que se tem direito, sucos e vinhos. Meia hora se passou e o café com leite não deu as caras.


- Demora quanto tempo para servir o café e o leite? - o marido perguntou ao garçon.


- O senhor tem que encomendar com o gerente... - respondeu gentilmente.


Todo o mundo se entreolhou sem acreditar. Café colonial que tem sucos e vinho, menos café.


Conta-se também uma história do tipo na minha família. Meu irmão foi tomar café colonial na subida da serra, a Rota Romântica, e parou num restaurante na beira da estrada. Pediu café colonial, mas antes queria uma Coca-cola.


- Sinto muito senhor, não servimos refrigerante junto com o café colonial, explicou o garçon.


Fatos gastronômicos estranhos acontecem aqui no Rio Grande!

Compras de Natal em Foz do Iguaçu

Faltou-nos experiência e informações. Meu novo namorado (ex-casado) queria comprar um presente especial para seu filho mais velho, um super Nintendo, seguramente mais barato no Paraguai.


Diferentemente da foto ao lado, encontramos meia dúzia de banquinhas com tênis, todas as lojas grandes fechadas, um calor dos infernos. Chegamos à cidade no dia 24 de dezembro, feriado nacional, depois de uma viagem direto de Porto Alegre, sem dormir. Deixamos a capital do Rio Grande às 20h e chegamos em Foz às 4 da manhã, podres de cansados e dormindo em pé. 


Em meio a ruas vazias da madrugada, achamos um hotel barato, onde um menino nos atendeu, sem vontade e com sono. Preencheu dois livros com dificuldade, talvez fosse semi-analfabeto. Devagarinho, desenhando as letras com lápis, ora molhando a borracha com a língua, fez e refez nossa ficha: de onde viemos e para onde vamos, como é praxe em todos os hotéis. Após quase uma hora de tortura alfabética, pediu-nos para subir e mostrar o quarto. Abriu a porta devagar. Espiou para ver se estava ocupado. Fez sinal para entrarmos. Um janelão envidraçado, sem cortinas e um ventilador de teto. Desabamos.


No final da manhã encontramos farelos de pão sobre a mesa do café da manhã.


- Vocês acordaram muito tarde, não tem mais café!


Resolvemos sair à rua para fazer um lanche. Ao lado do hotel, havia uma lancheria que estava fechada, feriado de Natal! Nome da lancheria: Saturno. Ri muito.


Então, por favor, não vá fazer compras no Paraguai no feriado de Natal, nem mesmo na véspera. Tá tudo fechado. O outro feriado importante no Paraguai é em fevereiro, o dia de uma santa.


Voltamos para casa sem presente nenhum.