Passei quatro dias internada num hospital que naturalmente segue a lei antifumo. Lá pelas tantas, dá uma vontade incrível de me sentar - seja lá onde for - acender um cigarro...
Tive alguma dificuldade enquanto estive na emergência; tava com muita dor, mas ainda assim, entre um exame e outro, meio zonza de tanto medicamento, com a bolsa embaixo do braço, com minhas roupas normais, driblava o segurança e saía porta fora e me escondia pra fumar o tal cigarro. Em seguida, voltava e olhava pro segurança com cara de tacho. E ia lá me sentar na sala de espera para um exame mais sofisticado.
Veja bem ao lado que 100% do hospital com esses cartazes por todo o lado está livre do tabaco! Ora, ninguém nem nada é livre 100% de nada! Muito menos eu, comum mortal viciada num patético cigarro. Após exames resolveram me internar para tratamento com antibióticos. "Putz, que saco!" pensei. aonde que vou fumar!
Já era madrugada e eu aguardando o leito disponível somente para a manhã seguinte.
Cheguei no quarto de cadeira de rodas, como manda o figurino. Mais duas mulheres - nenhuma fumante - já me aguardavam. Em seguida me colocaram medicação na veia e tive que ficar presa na cama. Com o tempo, fui melhorando e minha fome aumentando. Pensava num café preto e um cigarro, talvez um sanduíche de mortadela, coxinha de galinha, pastel. Era o sinal da melhora!
Livre do fio de borracha por onde pingava as medicações, comecei a observar a rotina dos enfermeiros e das pacientes. Só me restava fumar pendurada no janelão do banheiro. Então, com precisão de detetive, fugia da cama e abria a grande janela com vista para o arroio Ipiranga e acendia o meu cigarro. Dava umas três ou quatro tragadas, molhava a brasa, enrolava com papel e lá ele ia embora pelo vaso sanitário. O banheiro nunca ficava fumacento. Lavava as mãos e rosto, escovava os dentes, aspergia uma loção e voltava pra cama para mais agulhadas.
Lembro que numa manhã, desesperada de fome e vontade de fumar desci pelas escadas escondendo o braço com pulseira de internação. Tava tonta de fome e da medicação; passei pela lancheria apenas para olhar as delícias expostas, depois entrei na capela e tomei coragem para ir até o hall de entrada, com um povo entrando e saindo. De braço coberto, saí finalmente para rua; vontade de fugir, mas não o fiz. Apenas acendi um cigarro tranquilamente sob o sol escaldante. Pensei que fosse desmaiar... mas meu santo é forte. Fumei à vontade, sem precisar me abanar... Voltei pelas escadas e fui me deitar, sem culpa nem remorso. Mais um ou dois dias e teria alta!
Pensem com algum bom senso, ninguém nem nada é cem por cento livre de nada!
Nenhum comentário:
Postar um comentário