quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O I !

Alguém saudou com um "oi" faceiro


Ontem à noite fiz a última aplicação dos imãs desse ano. Os imãs foram colocados em várias partes do meu corpo. Uma sensitiva segura nos meus pés e vai batendo enquanto outro enumera todos os órgãos que podem ter algum problema. Uma terceira pessoa coloca os imãs sobre meu corpo vestido e deitado. Quem deu o primeiro sinal foi minha glândula pineal, onde imediatamente colocaram o imã.

Neste tratamento, após a colocação dos magnetos, fica-se em repouso por uns 15 minutos. Todos se preparavam para me deixar na sala sozinha, luz apagada, quando de um canto da sala ouço um "oi", na voz de uma criança. Todos se olham como que perguntando de onde vinha o som. Eu pensei se tratar de algum aparelho que reproduz sons de outro recinto. A senhora que segurou meus pés pensou se tratar de alguma gravação. Não. Ali não havia nenhum tipo de equipamento nem criança por perto. Todos se entreolharam sem entender. Eu respondi:

- Oi, querida.

Depois que fecharam a porta e apagaram a luz chorei muito. E minha ferida sagrada começou a sangrar de novo, vindo uma avalanche de emoções e lembranças dos meus filhos perdidos. Minha ferida está descrita no artigo "Bebês mortos não choram". Mentalmente conversei com minha companhia infantil, talvez um dos filhos perdidos, talvez um anjinho que me acompanha, não sei.

A menina (falei querida por alguma razão) deve ter acompanhado meu tratamento ali sentadinha, me escutando, quando perdi perdão por não ter saúde o suficiente para levar uma gestação até o final, quatro ao todo. E depois, enquanto as lágrimas escorriam, cantei canções de roda baixinho, agradecendo pela sua manifestação e por cuidar de mim lá do outro lado, já que não pude cuidar dela aqui neste plano.

Agradeço também aos deuses que me enviaram este pequeno anjo para me dar "oi", e as três pessoas que também escutaram.

Bebês mortos não choram, mas, na verdade, não estão mortos, continuam a nossa volta para nos cuidar. Se nesta vida não pude cuidar de um filho, tenho agora a certeza que eles cuidam de mim.


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