Fiquei conhecida como a mãe da Ana Cristina que despertou a paixão do Maestro Pletskaia na divisa da Sbórnia com o Esesquistão, ambos não muito conhecidos pelos turistas.
Ainda vivo aqui, agora mais velha. Minha filha Ana Cristina, está casada e tem dois filhos, mora na Sbórnia e ganha a vida como doceira ao lado do marido. Ela teve um romance passageiro com Pletskaia há tempos, mas ele se apaixonou por mim, fazer o quê! Mesmo véia, como ele me chamava, tinha meus atributos sedutores. Véios também despertam paixões, algumas trágicas ao som de tangos calientes nas praças públicas. Tivemos nosso affair escondido de todos, até virar música e todo o mundo ficar sabendo e escandalizado.
Naquela manhã fresca e iluminada, ele sentou à mesa pra me acompanhar no café com bolo de fubá. Sentada, sorvendo lentamente meu doce café, levantou-se e me abraçou gentilmente por trás e disse em meu ouvido cheirando a perfume de alfazema:
- Confesso que me apaixonei, não pela Ana Cristina, mas por você...
Bem que havia decifrado seus olhares compridos e sorriso maroto. Ele tinha cheiro de naftalina. De certo seu casaco surrado era guardado num velho armário cheio de cupim. Era uns 20 anos mais moço, mas cheirava a coisa velha, gente velha. Era um moço velho. Talvez minha alma gêmea desgarrada da minha há milênios. Ana Cristina encontrou-o para mim.
Tivemos um romance tórrido de alguns meses, depois se foi pra nunca mais voltar. Ainda velha na época, pude engravidar desse homem notável. Nove meses depois Ana Cristina ganhou uma irmãzinha, bailarina famosa na Sbórnia, Nica Nicolaiewsky. Isso foi um segredo nunca revelado.
Hoje, no entanto, com a perda de seu pai, fui obrigada a revelá-lo.
Nico partiu muito cedo, também nunca ficou sabendo da filha. Agora ele sabe, no lugar onde está. Assim como sabe do amor que ainda sinto por ele.
Fique com os deuses, sejam de que nomes forem, Nico Nicolaiewsky.
Sentada aqui penso que em breve estarei a seu lado e jantaremos no Baalbek todas as noites.
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