sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cega ou surda ou aparelho nos dentes

Sem contar que numa tarde, enquanto a mãe costurava, peguei o cinto de um vestido e enrolei no pescoço. E fui apertando, apertando, apertando... Minha mãe viu que estava ficando roxa e correu para cortar o cinto que me esgoelava. Salvou minha vida.

- Por que, pelo amor de Deus, fez isso? - gritou desesperada.

- Queria saber como era ser enforcada.

Quando criança tinha umas atitudes, no mínimo, estranhas. Um dia, caminhando ao lado da mãe pela calçada, ela segurava minha mão. Notou que tropeçava sem parar.

- Mas o que é isso, não vê os buracos? - reclamou.

- Não. Estou de olhos fechados. 

- Por que? - perguntou atônita.

- Quero saber como é ser cega...

UM GRITO NO CINEMA

Lembro do filme, Marcelino Pão e Vinho. O cinema estava lotado, na tela a cena do escorpião, a que mais gostava. Então tapei meus ouvidos e dei um grito. As luzes não acenderam, mas todos viraram para me olhar.

No final do filme, perguntaram por que eu tinha gritado.

- Para saber como era ser surda.

A COLEGA FAVORITA

Ela chamava-se Antônia. Era filha da diretora do grupo escolar. Adorava suas botas ortopédicas e o aparelho nos dentes. Achava o máximo. E muito incomodei em casa para também usar as botas e ir ao dentista para pôr os ferrinhos. Ela falava se cuspindo. No recreio comia biscoitos de morango e tomava guaraná. Sempre me oferecia, mas tinha nojo do resto de bolacha que ficava dentro da garrafa. Minha merenda era uma maçã ou pão com patê.

TIRADENTES

Mais ou menos nessa época, no grupo escolar  perto de casa, fiquei sabendo que no outro dia não teria aula, pois era dia de Tiradentes. Horrorizada, perguntei em casa por que tinha que tirar os dentes.

Sempre adorei botas

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