sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Contraste que dói

Dificilmente deixo de abrir meu blog, e sempre que venho aqui para ler, reler, me inspirar, escuto a música que marca este lugar virtual, o som de gaita-de-foles.


Quase sempre estou aqui de noite, então o som escocês parece combinar com a escuridão da rua ou do meu escritório. Não combina com o calor infernal que tem feito.


Especialmente hoje, por volta do meio-dia, eis-me aqui sentada na frente da telinha despejando o que me vai no interior. Clico no som e enquanto ouço inebriada, fecho os olhos e posso sentir a umidade, o frio, a neblina, o cheiro marinho e o sabor do uísque das terras escocesas.  Lá mora gente que tem a ver comigo! Meus antepassados, minha magia.


O gaiteiro continua  tocando. Então abro os olhos e vejo a rua, meu jardim pela janela. E a luz solar intensa faz com que eu volte à realidade, minha realidade brasileira. Brasil, um país com luz acesa, sem penumbra, sem fog, sem cheiro de mar. Brasil só fica no escuro de noite mesmo. De dia a claridade me dói, ofusca meus olhos, e minha glândula pineal deixa de funcionar. Deve ser por isso que produzo e crio melhor à noite, quando deveria estar dormindo.


Imagine aquele gaiteiro ali da foto, com todo aquele paramento, estar num cenário tipicamente brasileiro; ao fundo o Corcovado ou uma praia do Nordeste; imagine o céu azul anil e luminoso ofuscando enquanto ele assopra os acordes e pressiona o fole. Imagine que isso não faz o menor sentido.


Sua glândula pineal também só funciona à noite, no escuro. Na astrologia é regida pelo planeta Netuno. Permita-se viver na penumbra. Chega de sol!

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