A única certeza que tenho é que pertenço a mim mesma. Esse sentimento nasceu quando iniciei meu caminho de autodescoberta a partir da iniciação em astrologia. Era apenas eu e ninguém mais. Parece ser algo egocêntrico ou individualista, mas não era. Apenas de pertencer a mim mesma, talhar minha máscara na solidão, não ter medo de ficar sozinha e me encarar na frente do espelho vendo a minha imagem real, sem retoques, sem maquiagem, finalmente pude ser eu mesma. E me descobria bruxa, acima de tudo. Ficar em silêncio, meditar e me permitir que uma nova mulher emergisse das entranhas. Cursos e mais cursos, livros novos quando recebia meu salário, brincos e roupas indianas, longos passeios pela avenida Independência a olhar vitrinas nos sábados. Nessa época montei meu primeiro altar num cantinho embaixo da escada. A magia inundou meu ser sedento de conhecimento. Hoje aceito que o conhecimento possa ser um fardo, ou que a gente acaba sem saber o que fazer com ele. O caminho da consciência, em tese, parece ser tão lindo, parece dar sentido à vida e a todas as coisas. Dói subir esses degraus, ficamos sós. Como não tinha com quem compartilhar os novos conhecimentos, escrevia.
Gostava especialmente de participar todos os sábados do sarau com o grupo de astrologia, onde se trocava experiências, insights, sonhos ao sabor de chás e bolos e salgadinhos. Depois o sarau foi minguando, as pessoas desaparecendo, a professora mudando para outras atividades. E novamente fiquei só.
Meus familiares me excluíram por não "aceitarem" que o conhecimento da astrologia fosse assim tão essencial na minha nova vida; poucos amigos também me abandonaram. Época rica em aprendizado, em vida interior intensa, em experiências psíquicas, aumento da intuição. Eu me fiz por mim mesma. Na solidão e na escuridão da alma.
Mergulhando também na magia, fui aceitando o fato de que toda a bruxa e bruxo tem que aprender a decifrar sua lenda pessoal, ela dá significado, objetivo, clareza e escuridão. Sempre houve momentos de dúvidas, de vontade de desistir, sair correndo, fechar essa porta recém-aberta e dizer pro Grande Espírito:
- Quero minha vida de volta!
Ele sabe que isso não mais é possível, e, na realidade, no fundo de seu coração, também! As portas atrás de si foram fechadas, muitas desapareceram. Agora chegou a vez de entrar pela escuridão da nova porta aberta. Coragem e coração. É o que basta.
A estranha sensação de não pertencer a nada, ninguém, de se sentir uma estranha no ninho que nada tem a ver comigo ainda persiste. Especialmente agora, depois dessa longa jornada em busca de mim mesma, onde possa fazer sentido, falta, acolhimento. Ser imprescindível na vida de alguma pessoa, de um ser, nem que seja um gato, um jardim, uma plantação de gerânios. Sinto uma sensação de fracasso, de faltar um pedaço em algum lugar esquecido.
Hoje olho o que restou do meu pessegueiro aleijado com apenas alguns brotos da flor que tanto gosto, mutilado sem cerimônia por pessoas sem um pingo de educação e sensibilidade e sinto uma inutilidade tão grande que chega a doer. E isso me dói todos os dias. Vejo os galhos pelados e retorcidos de uma árvore que acabou sendo prensada numa parede com pouco sol rodeada por fios elétricos inúteis que me renderam muita incomodação.
Isso deve fazer parte da minha lenda pessoal, aprender a sublimar a raiva, a fúria e me movimentar em busca de significado e justiça.
Com certeza! Autoconsciencia serve principalmente para aprendermos a desenvolver os nossos dons e "podar" nossas deficiências.
ResponderExcluirQuer um conselho? Plante um outro pessegueiro.
Beijos,
Divani
Oi,mestra, agradeço sua participação sempre com sabedoria e carinho. Se pudesse te sequestrava... rsrsrs
ExcluirCom Saturno passeando na casa 4, provavelmente preciso me plantar em outro lugar; o ciclo de vida onde estou terminou. Todas as frutíferas precisam de sol pleno - aqui não tem mais... Grande beijo sabor pêssego