Era noite de Natal na casa da minha tia Alzira, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Cheirinho de bacalhau cozinhando inundava toda a casa. Descendentes de portugueses sempre comem bacalhoada à portuguesa na ceia. Eu estava entusiasmada com a chegada do Papai Noel. Enorme árvore de Natal na saleta de entrada da casa.
A casa era em frente ao velho estádio dos Eucaliptos, do Inter. Ali vesti a camiseta. Pra fazer companhia pro meu pai e porque já amava a cor vermelha.
E o bacalhau cozinhando no panelão. Andava pra lá e pra cá, tentando adivinhar o meu presente que já estava sob a árvore. Inúmeros pacotes. O meu tinha que ser o maior, pois tinha pedido ao Papai Noel o jipão de "entrar dentro", com pedais e direção. Verde igual do exército, com a estrela em cima. Falei nisso o ano inteiro.
Sabia que era um brinquedo caro, mas meu pai sempre fazia minhas vontades. Ele me dava mais carros do que bonecas.
Minha mãe que tinha mania de me dar bonecas. Tive uma que a boca era um buraquinho pra mamar ou botar o bico.
Sem muito jeito, dava mamadeira pra ela, feita com leite de verdade. Resultado: a boneca tinha cheiro de leite podre!
Passada a ceia tradicional com todos reunidos, a entrega dos presentes. Chamada! Chegou a minha vez, o pacote era enorme. "Meu jipão"... rasguei o papel com rapidez. Apalpei primeiro, não parecia que tinha quatro rodas, era mais fino.
Desastre: um carrinho de bonecas! Botei a boneca com cheiro de leite podre pra passear. Um dos natais mais tristes da minha vida!
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