segunda-feira, 25 de abril de 2011

Série alma gêmea e suas histórias

OS GATOS SE ESCONDERAM


Como já anteriormente havia falado, a questão da alma gêmea segue apenas um parâmetro: desafio! O desafio do crescimento de ambas as partes, uma retomada de consciência, principalmente a consciência espiritual. No início do relacionamento, você é uma pessoa, com o passar do tempo se tornará outra!

Uma noite, esperava-o para nosso jantar. Ele estava muito atrasado. Costumava chegar entre 18 e 19 horas. Já passava das nove da noite. Resolvi jantar sozinha. Sem saber o que pensar, lavei a louça e me preparei para dormir. Notei a inquietude dos meus gatos, pêlos meio ouriçados, andando de um lado pro outro. Confesso que também estava apreensiva.

Com o passar das horas os gatos se esconderam. Eu piscava de sono na frente da televisão. "Onde andaria ou o que teria acontecido com o namorado?", me perguntava. Então ouvi o barulho da chave abrindo a porta. Uma eternidade se passou até ele aparecer na porta do quarto. Não era ele! Seu rosto tinha um semblante estranho, ameaçador. Fumava e me olhava de modo desfocado, apoiado na porta, meio torto, cambaleante e em silêncio se foi pra cozinha. Quieta na cama, ouvi-o mexer nas panelas. Não sabia se me levantava ou se ficava ali. Onde os gatos se esconderam? Provavelmente embaixo da cama, estavam com medo da criatura estranha dentro de casa. E eu também! Fiquei ali na cama, imóvel, ouvidos atentos. Será que um café forte lhe traria de volta? Não sabia. Nunca tinha convivido com um homem embriagado. Fora o café que poderia oferecer, fiquei pensando em qual lição tinha que aprender, como bruxa, como astróloga e como mulher.

Em silêncio, depois de beliscar alguma coisa das panelas, tomou banho e veio dormir.

Naquela noite, os gatos assustados anteciparam a vinda de um estranho, acompanhado espiritualmente de entidades da escuridão. Talvez minha missão com ele devesse ser de exorcizar seus demônios, ao mesmo tempo em que exorcizava os meus.

Agora, depois do tempo do longo aprendizado sobre o alcoolismo, posso informar a quem interessar possa que esta convivência penosa com um alcolista é, sobretudo, um exercício de limites, conhecer seus próprios limites, ter a noção exata de sua tragédia particular e aprender que nessas experiências não há vítima nem algoz: há conhecimento e o amargo sabor de sua impotência em transformar essa situação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário