Quem tem jardim sabe a destruição que as formigas cortadeiras propiciam. E na minha casa de infância elas faziam suas trilhas carregando enormes pedaços de folhas. Observadora, deitava no chão, bem perto de suas trilhas, tentando descobrir como conseguiam carregar pedaços tão grandes, como se comunicavam, cada vez que uma formiga passava pela outra - dando uma paradinha e movimentando antenas ou se cheirando - depois seguindo seu caminho a um ninho que ninguém conhecia.
Iniciei minha experiência com esses insetos. "Quando crescer vou ser cientista", dizia pra todo o mundo. Ali deitada no chão, na terra, vendo a trilha organizada, retirei uma folha de uma formiga. Foi um estardalhaço! Elas se perdiam. Botava de novo o pedaço da folha perto da formiga. Chegava perto, cheirava ou algo parecido e ia embora, contando para todas as amigas que tinha alguém que podia puxar sua bagagem.
Esperava algum tempo. Colocava obstáculos na trilha. E era aquela alaúza de novo. E assim passava meu tempo, brincando com as formigas. Um dia, tive uma idéia (plutoniana): construir um cemitério no canteiro para as formigas. Passei um tempo procurando as formigas falecidas. Não achei nenhuma. Agora me comparo com o personagem, o prefeito da novela da Globo, O Bem Amado, que queria que alguém da cidade morresse para poder inaugurar o cemitério municipal. Enfim, nenhuma formiga morria!
Matei uma. Enterrei-a numa pequena cova e fiz uma cruz com palito de fósforo. Botei uma flor. Inaugurei o cemitério de formigas. Ficou até bem bonito, com o tempo cheio de pequenas cruzes. Com lindas florezinhas coloridas (maria-sem-vergonha).
Como toda a criança, logo enjoei do meu cemitério e o abandonei. Urano natal proeminente deu as caras. Faria uma experiência radical com as formigas: congelá-las no congelador da geladeira. Peguei uma e ali no ambiente congelante a deixei para ver o que acontecia. Naturalmente, ficava dura, como o picolé. Retirava um tempo depois e a colocava sob o sol quente. Vertia uma aguinha dela e o bichinho saía caminhando. Sua vida havia parado por alguns minutos e ela nem tinha noção disso. Portanto, tinha o poder da vida e da morte das formigas. Plutão se manifestando cedo em minha vida!
Certa vez, deixei a pobre formiguinha muito tempo dentro do congelador. Corri e botei ao sol. Nada. Aquela tinha morrido. E lá ia eu enterrar o bichinho duro no cemitério. Uma florzinha no seu túmulo.
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