Uma vez, no meio do caminho, conheci um xamã. Adorável, parecia um viking que, segundo ele, tinha sido mesmo em outras vidas. Gordo, muito louro e com muita sabedoria; jovem, por volta dos quarenta. Contei a ele minha dificuldade em enterrar meus bebês mortos prematuramente. Propôs um trabalho xamânico exclusivo para essa dor que não passava. Pensei na sua proposta. Fui a seu escritório para planejar as datas das sessões e o pagamento. Algumas semanas se passaram. Organizada em tempo disponível e financeiramente liguei para sua casa a fim de combinar o começo do tratamento proposto.
- Alô, gostaria de falar com Haymar.
A voz ficou muda do outro lado da linha.
- Alô? - insisti.
- Lamento informar, ele faleceu semana passada - era a esposa dele.
- Como assim? - perguntei estarrecida.
- Ele teve um AVC (derrame cerebral)
Sem saber o que dizer, apenas "lamento muito", desliguei o telefone e desabei chorando.
Pronto! Mais um morto que vou precisar enterrar, se conseguir...
O processo do luto, tipicamente plutoniano, é algo difícil de elaborar. Provavelmente meu luto ainda se mantém vivo, doendo a cada instante, toda a semana, por anos e anos a fio. Quero enterrar meus bebês, não lembrar mais nada - não consigo. Talvez Haymar, lá do outro lado, consiga levá-los a passear por praças bonitas, verdejantes e floridas.
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