ENTREVISTA COM O DEMÔNIO POR EUKARIS LEWIS
Imediatamente o perfume do incenso inundou meu escritório. Ofereci um dos meus cigarros a ele. Ele recusou dizendo que não fumava há muitos milênios e nem bebia.
- Não se importa que eu fume, né?
Abanou a cabeça em negativa.
- Precisa parar com isso e transcender esta egrégora que se nutre com sua fumaça, recomendou.
"Ah... um demônio vai cuidar da minha saúde física e espiritual", pensei. "Por que não", continuei pensando.
Arrumei o cinzeiro na minha frente. Ele se acomodou na cadeira, suspirando. "Estaria entendiado?", me perguntei.
- Gosta de música? Coloquei um cedê da Enya, uma das músicas mais antiguinhas. Ele fechou os olhos, saboreando a melodia que nos remete aos tempos dos celtas, lá naquela terra enfumaçada e fria de onde provém meus ancestrais.
- Pois é, em alguma dessas vidas que vivi naquelas terras britânicas, certamente tive o prazer de conhecê-lo. - expliquei.
- Sim, com certeza. E aqui estamos de novo frente a frente, disse apoiando os cotovelos sobre a mesa.
- Eu aceito um café, se tiveres - sei que tens, - sorriu.
Providenciei o café preto. Bebemos sem açúcar!
- Me diz, por que - afinal de contas - tenho que ter você por perto? - indaguei.
- Porque pertencemos a mesma tribo. - respondeu bebericando o cafezinho. - Tenho visto que tens tido amargas experiências. Faço o que posso pra lhe proteger.
- Sim, eu sei, - respondi lembrando minha trajetória penosa pela magia e religiões afro.
- Então, quero crer, que trazendo de volta à minha casa os meus exus guardiões, tudo fica menos complicado para mim? - constatei olhando em seus olhos.
- Não precisa ser esse povo de rabo e guampa, são meras representações; não sou eu!
Parece que ficou ofendido.
Jamais me passaria pela cabeça brigar ou discutir com o demônio ali na minha frente. Longe de mim tal atitude!
- Não precisa ter medo nenhum... - disse lendo minha mente.
Sorri sem graça, com vergonha. "Vou ter que policiar meus pensamentos", pensei.
- Não policie seus pensamentos, não precisa. Na verdade, Eukaris, gosto de você pelo que és, por sua atenticidade e amor fraterno por todos os seres. Apreciamos gente com grande coração, apaixonados pela magia, - recomendou sorrindo.
- Ufa... ainda bem.
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