Festa dos Rapazes de Varge, tradição pagã |
Pesquisando sobre a terra de origem do meu avô materno, Trás-os-montes, em Portugal, levei mais outro susto de gaiteiro: na Festa dos Rapazes, típica da região portuguesa, quem vai na frente é um gaiteiro com sua gaita de foles! Meu sangue celta então vem dos dois lados: da mãe e do pai!
Nome do meu avô era Delfim José de Araújo, uma criatura com olhos verdes e pele morena, gostava de música, tocava banjo e guitarra, amava o mar, pescar e um bacalhau à portuguesa. Canceriano do dia 16 de julho, veio para o Brasil acompanhado da minha avó Joaquina Teixeira de Araújo que tinha 16 anos. Naturalmente, os imigrantes portugueses vinham de navio tentar a sorte e melhores condições de vida aqui. Aportaram no Rio de Janeiro e depois desceram para o Sul, com uma bagagem plena de sonhos e esperanças.
Pouco ou quase nada convivi com vô Delfim (alguns dizem que seu nome era Delfino José). Encantava-me seus olhos verdes e seu gosto pela praia de mar, quando pescava o dia inteiro acompanhado de meu irmão. Um dia perguntaram a ele:
- Só isso de peixe, seu Delfim? - olhando sua cestinha de vime com um ou dois peixes.
Ao que ele respondeu:
- Não! Já foi um caminhão carregado para Porto Alegre...
Era brincalhão. Certa vez contou que precisava botar a fralda da camisa para fora das calças, quando voltava dos bailes tarde da noite. Segundo ele, desta forma, as bruxas não o atacariam! Uma das tradições locais de um vilarejo de Trás-os-montes, região norte de Portugal, na divisa com Espanha. Portanto, segundo informação de minha mãe, teríamos também parentes neste país.
A distância entre Portugal e Brasil é o oceano Atlântico. Na época, a viagem só podia ser feita de navio. Imagine a coragem deles enfrentar a longa viagem - provavelmente não foi na primeira classe - que durava mais ou menos 30 dias. Eram corajosos e tinham a vontade de aqui se estruturar e constituir família. E foi o que fizeram. No Morro de Santa Teresa, bairro da zona sul de Porto Alegre, construíram casa com três pisos que também foi uma espécie de pensão ou albergue para todos os imigrantes portugueses que aqui chegavam. Além de pedreiro e construtor, meu avô trabalhava no seu restaurante no centro da cidade e no café na rua dos Andradas, também no centro.
O restaurante era perto das docas, onde grande número de estivadores e trabalhadores almoçavam. Minha avó Joaquina comandava a cozinha com zelo e mão firme. Também foi mulher corajosa, um pouco mais fechada que o vô brincalhão. Joaquina era aquariana do dia 3 de fevereiro. Morreu aos 96 anos.
Joaquina nasceu em 1888, numa aldeia de Guimarães, também no norte de Portugal. Não sei como ela e meu avô se encontraram nem como ou por que decidiram vir para o Brasil. Aqui tiveram quatro filhos, sendo o mais novo chamado Mário vivo e com saúde. Deixaram também seis netos, sendo que um deles é esta que vos escreve. Minha saudação ao povo de Portugal que me acessa diariamente.
Senti um aperto no coração com esta história muito rica e poderosa, tens dentro de ti uma alma linda e maravilhosa que eu simplesmente amo demais.
ResponderExcluirEduardo, gratidão pela sensibilidade... As informações foram coletadas com meu irmão mais velho, com prima, tio Mário e minha mãe quando viva estava. Gostaria de ter sabido muito mais sobre a incrível e corajosa saga dos meus avós maternos. Abraço com beijo!
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