Quando nasci em 26 de outubro, Deus estava de mau humor. Creio que sentia sono ou se preocupava com o passeio que Urano fazia no signo de Câncer: Ele não sabia no que ia dar isso pro planetinha Terra.
Esquisitices e crueldades à parte, quando resolvi que queria um filho e perdi na noite de Ano Novo de 1979, num hospital do SUS, onde as baratas à noite rastejavam por entre as camas das parturientes, o médico disse:
- Não te preocupes, engravidará de novo e tudo vai dar certo.
Ouvi este conselho quatro vezes. Por fim, desisti de ter filhos.
Por outro lado, ouvia amigos e parentes dizerem que quando Deus fecha uma porta, em seguida abre outra. Sabedoria popular para amainar sofrimentos e perdas.
Se Deus abriu uma porta para mim eu não vi. Todas as portas da minha vida ainda estão fechadas, chaveadas, com correntes e trancas de ferro. Com o tempo tudo se enferrujou e estão emperradas.
Como naquela noite em que nasci canceriana e com Urano sobre o ascendente, deduzo que terei que abrir uma porta pelo menos a pau, com pé-de-cabra. Ou então pedir a chave de joelhos para o Bará. Ou como os católicos preferirem, rogar a São Pedro, o dono da chave dos céus, que me ajude a abrir a porta, nem que seja apenas uma. Uma mulher impedida de passar. Deus esqueceu de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário