Tambor xamânico e as maçãs

Há alguns anos passei pela iniciação no xamanismo num workshop sobre confeccionar meu próprio tambor, tradicional instrumento de conexão com a Mãe Terra, também facilitando a entrada num estado alfa para conectar dimensões mais elevadas.


E lá fui eu ao encontro com Mônica Kabregu, mestra uruguaia. O grupo não era grande, mas de potencial. Durou todo o fim de semana. 


Num dos momentos, todos sentaram em círculo no chão e falaram sobre suas vidas e o motivo de estarem ali, querendo aprender a fazer o tambor. Quando chegou a minha vez, despejei em palavras como eu mesma me enxergava no caminho da magia e do xamanismo, inclusive da própria astrologia.


- Sinto-me como aquela macieira que você tem ali no pátio, carregada de maçãs; os galhos arrastando no chão. A árvore chega a estar torta! Isso sou eu!


Olharam-me aturdidos.


- Mônica, você não vai colher as maçãs??? - perguntei.


Assim como eu, muitas bruxas e xamãs podem se sentir assim, só acumulando conhecimento ao longo da vida, sem ter a ousadia ou oportunidade de colocar em prática o que aprenderam. Ficam eternamente na iniciação, nos rituais de passagem. O conhecimento - sem estar direcionado - começa a apodrecer dentro deles. Ou estão impedidos de ser ou têm medo de ser eles mesmos. Inclusive o medo pode estar atrapalhando, falta de tempo, de local adequado e por aí vai.


Aprendi a fazer meu tambor com sacrifício, precisei ter técnica e força para esticar o couro.


Lá deixei algumas de minhas maçãs e aqui as distribuo fraternalmente. Mas ainda tem muitas frutas penduradas na árvore.


Esta situação todo o buscador no caminho mágico se depara: o que fazer agora com sua mochila pesada de conhecimento, corre o risco de desperdiçar. Mais ou menos o que Paulo Coelho descreveu em seu livro O Caminho de Santiago, quando finalmente encontrou sua espada. E se perguntou: o que vou fazer com esta espada?